quinta-feira, 11 de setembro de 2008

O AVARENTO, DE MOLIÈRE

“Não possuir algumas coisas que desejamos é parte indispensável da felicidade”. (Bertrand Russell (1872-1970), filósofo inglês).

Escritor, ator, criador e diretor de companhias teatrais, consagrado como um dos maiores nomes da comédia satírica universal, Molière – nome que o dramaturgo retirou de uma aldeia do sul da França – baseou-se em Aulularia3 (também conhecida como A comédia da marmita), texto do comediógrafo romano Plauto (c. 230-180 a.C.), para compor sua obra.
Seus motes, lembram um pouco os temas que o grande escritor Francis Scott Key Fitzgerald se debruçou, em obras como: O Grande Gatsby e O Último Magnata, ou seja: hábitos considerados refinados pela elite, poder, riqueza, trapaça nas relações sociais, casamento e critica as instituições estabelecidas.
Molière sempre teve uma relação estreitada com a corte francesa, onde diversos nobres o ajudaram em suas criações como mecenas. Um famoso dentre estes, foi o rei Luís XIV, que não só lhe ajudava financeiramente (pensão), como se tornou padrinho do primeiro filho do dramaturgo.
O homem que só pensa em dinheiro.
A última peça encenada pelo ator Paulo Autran (1922-2007), a 90º montagem da qual participou ao longo de seis décadas de profissão, tem no papel-título um patriarca que se tornou conhecido dos parisienses em 1668, quando a obra estreou no teatro da Cidade-Luz sob assinatura de Molière, pseudônimo de Jean-Baptiste Poquelin (1622-1673).

Por dez meses, o “senhor dos palcos” brasileiros encarnou Harpagão, viúvo que se vê crescentemente obcecado pelo acúmulo de riquezas. Sem se preocupar em manter princípios morais ou desenvolver valores espirituais e temeroso de ser roubado a qualquer momento e por qualquer pessoa – incluindo os filhos –, dedica-se integralmente a cuidar da caixa cheia de moedas que tem enterrado no jardim.
A vida da família do avarento é fortemente influenciada e modificada pela ambição desmedida do patriarca. Todos, dependentes da carteira de Hapargão, se submetem aos caprichos do chefe de casa e padecem de seu doentio apego ao dinheiro. Elisa, filha do avarento, mantém um namoro secreto com Valério, criado do pai, enquanto vê seu casamento com outro, naturalmente um homem rico, ser arranjado por Harpagão.
Cleanto, o filho, nutre uma paixão desesperançada por Mariana, jovem órfã a quem o viúvo planeja transformar em sua nova esposa. Nessa órbita, circulam também personagens como uma governanta que trabalha de alcoviteira para receber alguns trocados, um atrevido criado e um cozinheiro constantemente contrariado pela obrigação de ter de preparar banquetes irrisoriamente financiados pelo patrão. Hábil articulador de circunstâncias risíveis, Molière extrai a comicidade do espetáculo das situações que constrói a partir das condições extremas vividas por suas criaturas.
Diante do obra de Molière, que tem mais de três séculos de existência, podemos extrair alguns apontamentos/reflexões, para nós que vivemos em pleno século XXI:

1 - Tome cuidado para que a riqueza não interfira nos seus relacionamentos;
2 - Cuide para que seus desejos não cresçam, na medida da sua prosperidade;
3 - Devemos cuidar para que nossas ambições não nos seguem, para nossos valores espirituais e morais;
4 - Seja feliz e aproveite a vida, com o que tens.

Neste último item faço coro com Rubem Alves: “Os especialistas sabem que se não tivermos inveja, se encontrarmos felicidade nas coisas que possuímos, seremos mais felizes e por isso trabalharemos menos e compraremos menos. O que é “mal” para o “progresso”, por isso é preciso que os nossos olhos fiquem doentes, que eles dancem a dança terrível, que vai do que o outro tem; para aquilo que temos. Por isso eles querem que sejamos infelizes, quem tem inveja trabalha mais, o infeliz trabalha mais, corre mais atrás”.

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