segunda-feira, 13 de junho de 2011

CRÔNICAS AVULSAS: A FOGUEIRA DA ÉTICA & CIDADANIA



As Cinzas da Finada Fogueira de São João...


“O fundamento do meu ser e de minha identidade é puramente moral: ele está na felicidade à fé que jurei a mim mesmo. Não sou realmente o mesmo de ontem; sou o mesmo unicamente porque eu me confesso o mesmo, porque assumo um certo passado como sendo meu, e porque pretendo, no futuro, reconhecer meu compromisso presente como sempre meu.” _M. Conche, Montaigne et la philosophia, ed. de Mégare, 1987.


O pomo de discórdia entre nós foi uma fogueira. Calma, eu explico; minha vizinha (a qual não converso por ‘n’ motivos que não vem ao caso explicar) fez de um amontoado de móveis velhos seus e madeiras, uma fogueira em plena rua, tudo isso num belo dia de noite e de muito frio, em meados do mês de março desse ano corrente.

Como a fumaça começou a adentrar em minha “green house” e meu estimado cachorro: “SansãoPantaleãoTigrónTiburón” ou “enfant terrible” para os mais íntimos, começou a passar mal com o cheiro, não pensei duas vezes: liguei para a base policial, que fica a poucos metros da minha casa, e lhes contei todo o ocorrido; desse telefone, o policial muito prestativo (por sinal) acionou o rádio e copiou um policial que estava numa diligência nas proximidades e me orientou a ligar também nos bombeiros: (193). O que fiz prontamente e após alguns minutos, lá estava: Batman & Robin, ou seja, caminhão do corpo de bombeiros e uma viatura da polícia.

Sai e fiquei a observar do terraço no meu sobrado, como seria a abordagem deles nessa situação, pois, quando chegaram pegaram ela em pleno flagrante, pois a mesma não contente em atear fogo e fazer sua “fogueira de São João” fora de época, estava ao redor das chamas esquentando suas delicadas mãos e dando risadas de hiena, não sei do quê...

Porém, tudo isso foi abafado e uma sensação de medo lhe estampou a cara, quando viu subir a rua o caminhão do corpo de bombeiros com seu barulho ensurdecedor e inconfundível sirene, juntamente com uma viatura policial.

(Apenas a guisa de conhecimento ao caro leitor e para demonstrar tão somente que não é nada “pessoal” as labaredas da sua rudimentar fogueira de São João, estavam a ponto de encostarem-se nos fios de alta tensão do poste).

Pois bem, Batman & Robin – foram sensacionais; pois salvaram a pátria de arder em chamas, que sem sombra de dúvidas ficaria igual a Roma, que não teve a mesma sorte...

Deram nela também uma advertência básica, que lhe calou fundo, pois, ouvir sermão não é nada agradável, e não obstante a isso (e foi à melhor parte de tudo) pediram que ela, com sua própria água, apagasse sua inusitada fogueira, o que a mesma fez com uma cara igualzinha ao do finado humorista e estimado: Costinha.

Morri de rir! E dou risadas até hoje, quando estou aqui a deitar essas palavras no meu blog...

Por fim, o Batman disse ao Robin:

“Enquanto as pessoas não souberem o que é Ética e Cidadania, teremos de lidar com casos assim.”

Como eu estava no terraço e eles encostarem seus automóveis mágicos em frente à calçada da minha casa, não pude resistir e disse:

“A ética trata dos princípios e valores que orientam a vida inserida no contexto sócio-político-econômico e cultural. A cidadania orientada pela ética responsabilizará a todos na busca de um comportamento coerente e no desenvolvimento de projetos que resgatem a dignidade humana. Logo, ética provoca a reflexão de idéias e propõe valores; a cidadania conduz à prática social responsável e o envolvimento solidário, pelo outro e pelo mundo.

Contudo, a indiferença é impressionante, e existe veladamente uma declaração universal dos omissos, com o discurso cínico de que ‘não adianta mesmo, as coisas não vão mudar’ porém, não faço parte desse time e nem vocês!”


Assentiram com a cabeça e foram embora, deslizando pelo asfalto com seus carros...


O SansãoPantaleãoTigrónTiburón ou enfant terrible (a gosto do freguês) dormiu rapidamente, após, a fogueira ter se esfriado e apagada por completa; deveras, dormiu pensando nos “ossinhos de brinquedo” do dia seguinte, e eu - pensando num novo mundo...

***

1 comentários:

  1. Oi, Marcelo. Tudo bem?


    Seu blog é divertido. O texto mais recente (uma crônica, sem dúvida) é gostoso. Não resta dúvida que escrever é um dos talentos que tem. Portanto, para você, o céu é o limite (com o perdão do chavão).


    O que talvez falte é encontrar uma voz que seja só sua e, por isso, original, e dar uma maneirada nas citações (também amo citar, e tenho um caderninho no qual vou anotando todas as minhas prediletas, mas contenha-se para abusar do recurso).


    Você gosta de Nelson Rodrigues? Já leu O Óbvio Ululante? Se leu, sugiro que releia. Se não leu, faça isso o mais rapidamente possível. Amanhã explico.


    Beijo e até amanhã.

    Milly Lacombe.

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