domingo, 11 de junho de 2017

CRÔNICAS AVULSAS: A PSIQUE DO BATMAN, ADAM WEST & EU



Dia desses na empresa que trabalho – uma menor aprendiz me disse: “Eu acho dá hora sua tatuagem do Batman no antebraço!” Confesso, que fiquei encabulado e respondi meio sem jeito: “Um dia te explico o porquê dela...” Os dias se passaram céleres e no frenesi das demandas, essa explicação minha nunca chegou para ela. Coisas que o mundo corporativo se encarrega de varrer para debaixo do tapete do esquecimento – devido suas altas solicitações cotidianas – que crescem sem fim...

Hoje, com a notícia de que o lendário ator Adam West, ator que interpretou o Batman na clássica série de TV americana, entre 1966 e 1968, morreu nesta sexta (09.06.2017), aos 88 anos, me senti inclinado a tecer algumas palavras sobre o Batman. Aliás, essa série ocupou muito o meu imaginário na infância e ficava encantando com as peripécias do Batman nela.

Aos desavisados, foi Bob Kane o criador do Batman, que fez sua estréia nos quadrinhos da Detective Comics em 1939. E para entendermos a psique da alma do Batman, precisamos falar do medo. Isso fica bem claro na película: Batman Begins, 2005 (do excelente diretor: Christopher Nolan). E a morte dos pais do Batman é parte capital de sua mitologia. Tudo teve seu início em novembro de 1939 na lendária HQ (de Kane) em que lemos a morte dos seus pais.

O que a criança Bruce Wayne aprende ali, com esse evento traumático? Que o mundo é um lugar cruel, e que nada – nem ninguém irá nos bater tão forte quanto a própria vida. Logo, não se trata de quem bate mais para vencermos na vida e sim de quem sabe apanhar e mesmo assim se põe de pé e não desiste. O personagem aprende que não estará seguro de novo, então o que ele faz? Justiça com as próprias mãos. Eventos traumáticos nos fazem questionar as nossas mais profundas crenças. E é assim que um trauma pode ser uma força poderosa que nos induz ao amadurecimento. Batman ao assumir o símbolo do morcego (ele morria de medo dos morcegos quando criança) conquistou para si mesmo –o medo real deles. Tornou-se outra pessoa...

Carl Jung no começo do século 20, vai se debruçar sobre o lado sombrio que todos nós carregamos. É a eterna dicotomia que nos divide: “bem x mal”. E o Batman personifica o lado sombrio. Em TODAS as culturas do mundo (exceto a China) o morcego é uma ameaça, um ser notívago, algo que não podemos ver claramente – mas, que pode nos morder. As pinturas medievais apresentam o próprio demônio com chifres e asas de morcego.

O que o Batman nos ensina então? É a atitude que iremos adotar perante a vida – o que realmente importa, quando ela vier sobre nós. Isso é uma escolha fundamental que todas precisam tomar; pois não importa o que venhamos a experimentar, não importa quem sejamos, não importa a classe, cor, gênero...

O mais importante é a nossa reação após a tragédia. Para muito além de suas aventuras eletrizantes, o Batman trás ao mundo algo maior. Suas lutas interiores nos oferecem uma visão da origem dos nossos próprios medos. As motivações por trás dos atos de maldade – e as maneiras que um ser humano normal – pode se tornar um herói. E sem autodisciplina que ele tem de sobra, não seremos ninguém. Como dizia Aristóteles: “Somos o que fazemos repetidamente, repetidas vezes. Portanto, a excelência não é um feito, mas um hábito.” Autodisciplina é como um músculo do nosso corpo – logo, quanto mais exercitarmos, mais fortes ficaremos.

Todos tentam se fortalecer com suas virtudes e minimizam suas fraquezas. Batman reflete o espectro total da ansiedade emocional: alegria e tristeza, que cada um de nós experimenta a vida toda. É um homem que encarou sua tragédia pessoal (perda dos pais) e fez escolhas para superá-la. E usou essa tragédia – para melhorar a si mesmo e o mundo.

A melhor coisa sobre o Batman é que ele não é um super-herói. Ele é HUMANO, aliás, demasiadamente humano. Ele nos mostra a grandeza da qual os humanos são capazes. Que todos nós podemos fazer a diferença sim em um mundo de dificuldades e mazelas mil. Podemos perseguir a justiça em um mundo injusto.

O Batman é acima de tudo – um personagem que nos dá esperança. Que todos nós precisamos. Ainda mais nos dias de hoje...


***


ps.: Só contarei mesmo o motivo real então pelo qual tatuei o Batman no braço, para a menor aprendiz. Você terá de conviver com essa dúvida, se leu tudo até aqui. Existem coisas da psique humana, que só podemos dizer pessoalmente. Sorry.


RIP.: Adam West (1928-2017) descanse em paz e obrigado por tudo!

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